Depoimento | Gilberto Araujo
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Gilberto Araujo
Ensaio | 24 de novembro de 2011
Sobre a última visita à aldeia
Imagens que tomam forma no corpo;
reflexos corpóreos deglutidos a muito custo:
não é tão fácil soltar as amarras de nossa cultura Juruá
tão impregnada, tão excludente e individualista
sons e cores: uma rabeca chora uma melodia terra cobre enquanto um acorde intermitente ressoa de uma violão.
Os pequenos dançam entre passos entrecortados e me intrigam
imagens e olhares que me atravessam me transportam para um estado estrangeiro
que de repente me assaltou... e me mantém em permanente vigília de mim mesmo e do nada O Guarani se instala, a língua, um bombardeio de sons nunca antes ouvidos: sou um estranho impotente
–– Que porra eles estão falando? Não tô entendendo nada – Juruá juruá juruá.... é uma revolta amargada há meio milênio difícil de esquecer.
O olhar contemplativo dos mais velhos é outro tempo, outro plano que foge à compreensão de um apenas Juruá – é um incômodo muito grande para quem está sempre refém do relógio.
O cachimbo, o fumo (talvez totem-tempo guarani) que não tem hora, é quando dá vontade, não importa o que se esteja fazendo, sempre há tempo para algumas tragadas... não nego, já fiquei com vontade de experimentar. Sei que não há nada de extraordinário nisso... mas as vezes me parece tão sagrado para eles...
E de novo TERRA, em tudo há uma terra vermelha, ocre, nos azulejos, nas madeiras, na pele, nos cabelos e olhos e uns 80% na alma, como diria Drummond: terra vermelha. O Guarani inunda nossos ouvidos uma vez mais: um labirinto sonoro – e eu, estrangeiro não entendendo uma vírgula – é o juruá que é branco, o não índio, é um consolo vazio que me torna mais estranho .
E quero mergulhar mais, me sentir menos estranho.
Sobre a última visita à aldeia
Imagens que tomam forma no corpo;
reflexos corpóreos deglutidos a muito custo:
não é tão fácil soltar as amarras de nossa cultura Juruá
tão impregnada, tão excludente e individualista
sons e cores: uma rabeca chora uma melodia terra cobre enquanto um acorde intermitente ressoa de uma violão.
Os pequenos dançam entre passos entrecortados e me intrigam
imagens e olhares que me atravessam me transportam para um estado estrangeiro
que de repente me assaltou... e me mantém em permanente vigília de mim mesmo e do nada O Guarani se instala, a língua, um bombardeio de sons nunca antes ouvidos: sou um estranho impotente
–– Que porra eles estão falando? Não tô entendendo nada – Juruá juruá juruá.... é uma revolta amargada há meio milênio difícil de esquecer.
O olhar contemplativo dos mais velhos é outro tempo, outro plano que foge à compreensão de um apenas Juruá – é um incômodo muito grande para quem está sempre refém do relógio.
O cachimbo, o fumo (talvez totem-tempo guarani) que não tem hora, é quando dá vontade, não importa o que se esteja fazendo, sempre há tempo para algumas tragadas... não nego, já fiquei com vontade de experimentar. Sei que não há nada de extraordinário nisso... mas as vezes me parece tão sagrado para eles...
E de novo TERRA, em tudo há uma terra vermelha, ocre, nos azulejos, nas madeiras, na pele, nos cabelos e olhos e uns 80% na alma, como diria Drummond: terra vermelha. O Guarani inunda nossos ouvidos uma vez mais: um labirinto sonoro – e eu, estrangeiro não entendendo uma vírgula – é o juruá que é branco, o não índio, é um consolo vazio que me torna mais estranho .
E quero mergulhar mais, me sentir menos estranho.